Após prejuízos causados pela estiagem, próxima safra de soja deve trazer produtividade maior
Mesmo que o fenômeno La Niña se manifeste, não deve ter força para influenciar de forma significativa. Aumento pode ser de 18,3% em relação ao ano passado, segundo projeções
Depois de três safras prejudicadas pelos efeitos da estiagem ou do excesso de chuvas, o clima dá sinais de que não vai atrapalhar a colheita de 2025. O boletim do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs) para o último trimestre aponta uma fraca intensidade do La Niña, com chuvas ligeiramente abaixo da média histórica. Do clima vem uma notícia alvissareira, especialmente depois que a última safra sofreu devido às chuvas e à enchente, que prejudicaram a colheita em alguns locais.
— A projeção é de uma área 1,5% maior e uma produtividade de 3.179 quilos por hectare. É uma estimativa prudente, que utiliza uma linha temporal de 10 anos, com um cálculo estatístico que abriga boas safras e outras frustradas por fatores diversos — estima o diretor técnico da Emater, Claudinei Baldissera.
Caso os 6,8 milhões de hectares alcancem essa média de produtividade, a safra chegará a 21,6 milhões de toneladas, um aumento de 18,3% em relação ao ano passado. Baldissera lembra que os eventos climáticos atrapalharam tanto a quantidade quanto a qualidade dos grãos.
Financiamento
Os resultados negativos dos anos anteriores descapitalizaram boa parte dos produtores, que precisaram tomar crédito ou renegociar dívidas em condições não tão vantajosas. O consultor em agronegócio Carlos Cogo observa que parte dos recursos esperados não chegaram, deixando muitos em situação dramática.
— Foi um grande problema. Alguns produtores receberam recursos, outros não. Alguns repactuaram dívidas, outros não. Isso tudo ainda está em aberto, uma situação muito difícil — lamenta o sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, lembra que, nas duas últimas safras, os produtores acertaram as contas com cooperativas e bancos. Credores e devedores buscaram soluções, mas faltou a participação do governo federal nessa equação.
— Foram tomadas medidas de mercado, pelas pessoas. Queríamos que fosse disponibilizado um valor para que o produtor, via BNDES, tivesse um prazo mais longo. O maior problema não é o tamanho (das dívidas), mas o perfil, que é de curto prazo — argumenta.
Mercado
A condição para comercialização dos grãos responde a uma série de fatores globais. A eleição do presidente americano Donald Trump, por exemplo, pode repercutir na demanda internacional, impactando o mercado brasileiro e, consequentemente, também o gaúcho.
— A leitura de mercado é que haverá um conflito (dos Estados Unidos) com a China, que comprará menos soja americana. A bolsa (de Chicago) vem trabalhando com cotações futuras na faixa de US$ 10 (o bushel), podendo ficar até abaixo disso se confirmar uma safra grande na América do Sul — analisa Cogo.
O consultor explica que, se a China e outros países retaliarem ações de Trump por meio de embargos de compra de soja norte-americana, o mercado a ser abastecido pelo Brasil tende a crescer. Isso levaria a uma valorização, como aconteceu no primeiro governo do republicano. Segundo Cogo, tudo está dentro da normalidade, com movimentos que já eram esperados.
Antônio da Luz ressalta que a qualidade do grão que será entregue ao mercado não preocupa, devido à estabilidade do clima anunciada até agora. A única variação pode ocorrer na quantidade, mas isso não teria impacto no preço global. Resta acompanhar o preço praticado. Baldissera vê uma expectativa de reação para superar os cerca de R$ 130 da saca praticados em meados de novembro.
— Se comparado ao preço registrado nos meses de novembro entre 2019 e 2023, estamos 11% abaixo da média, que foi de R$ 145 a saca, nesses anos. O produtor espera que haja um posicionamento de mercado para que o preço se eleve — pontua o diretor técnico da Emater.
Com um agricultor cuidadoso na ponta do processo, plantando em condições adequadas de umidade e temperatura do solo, além do correto monitoramento de doenças e pragas, a tendência é que o Rio Grande do Sul tenha uma colheita satisfatória de soja. Ainda que sejam números relativos, baseados em resultados recentes insatisfatórios, não deixa de ser um alento que vem do campo.
Projeção da safra 2024/2025
- Área plantada: 6,8 milhões de hectares
- Produtividade: 3,1 toneladas por hectare
- Produção total: 21,6 milhões de toneladas
- Aumento: 18,5% em relação à safra passada
Fonte: Zero Hora
Foto: Emater