Epidemia de diarreia e locais impróprios para banho em Santa Catarina colocam veranistas e autoridades em alerta.

Situação ocorre no período em que a capital catarinense mais recebe visitantes no ano.

Um dos principais destinos de gaúchos no verão, Santa Catarina apresenta duas dificuldades sanitárias neste momento. Mais da metade das praias do Estado foi classificada como imprópria para banho. Já a capital Florianópolis enfrenta uma epidemia de diarreia com mais de mil casos confirmados, conforme a última atualização oficial, além de também ter pontos onde não é indicado entrar na água. Autoridades dizem acompanhar ambas as situações, que ocorrem no período do ano no qual a capital catarinense mais recebe visitantes.

Balneabilidade preocupa

O último balanço do Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Santa Catarina indicou que 124 dos 237 locais analisados estão impróprios para banho no Estado vizinho. Os outros 113 pontos podem receber banhistas. Esse tipo de levantamento é feito durante o verão e divulgado uma vez por semana. Florianópolis teve 50 pontos considerados impróprios; 37 estão aptos para lazer.

Conforme o IMA, um ponto é considerado impróprio para banho quando houver mais de 800 bactérias Escherichia coli por 100 mililitros em mais de 20% de um conjunto de amostras coletadas nas cinco semanas anteriores. Ou quando, na realização da última coleta, o resultado for superior a 2 mil por 100 mililitros. Essas bactérias vivem no intestino humano.

A metodologia e o histórico de balneabilidade dos pontos podem ser consultados neste site.

Roberta dos Anjos, presidente da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), concedeu entrevista para o Gaúcha Atualidade da Rádio Gaúcha nesta terça-feira (10). Segundo ela, o fato de as praias terem sido classificadas como impróprias para banho tem origem no período de chuva vivido em Santa Catarina nos últimos dias. 

— Com a drenagem (da água chuva), o caminho natural da água é ir para o mar. Isso não quer dizer que seja esgotamento sanitário que esteja na água do mar, e sim acaba contaminada por essa “lavagem” feita nas galerias de drenagem, que leva toda a impureza — explica.

Como exemplo, ela cita a Praia de Canasvieiras, em Florianópolis, que tem cobertura de 98% de rede coletora de esgoto. Ainda que com a estrutura necessária para o tratamento dos dejetos domiciliares, a praia consta como imprópria para banho. Em tese, isso não deveria ocorrer. No entanto, segundo Roberta, ligações clandestinas de esgoto doméstico no esgoto pluvial podem ser também responsáveis por poluir o mar, junto com o período chuvoso.

A presidente da Casan explica que a classificação de local impróprio para banho deve continuar nas próximas semanas no Estado vizinho. Isso porque o relatório de balneabilidade que define o parâmetro precisa ter uma sequência de quatro avaliações semanais positivas para que seja alterado para ponto adequado ao lazer. Isso, conforme Roberta, não é motivo para não frequentar a praia:

— Se tiver sol, não tem problema de entrar na água quando temos rede coletora de esgoto nos locais. O que recomendamos é que não se deve entrar na água quando chove, porque sabemos que toda a impureza para no mar por conta da drenagem.

Por meio de nota, o governo estadual de Santa Catarina informou que trabalha para melhorar o cenário da balneabilidade das praias. Entre as iniciativas citadas estão o auxílio a municípios para a gestão dos recursos hídricos para despoluir os cursos de água, fiscalização de ligações clandestinas de esgoto em parceria com a Casan e as prefeituras e também priorização de processos de licenciamento ambiental que visem à ampliação da cobertura da rede de esgoto e macrodrenagem.

Epidemia de diarreia

Florianópolis já registrou 1,2 mil casos de diarreia neste ano, segundo atualização da Secretaria de Saúde da capital catarinense desta terça-feira.  Por meio de nota à reportagem, a pasta informou que estão “sendo realizados exames e monitoramento dos casos, para se descobrir o agente causador. Ainda não é possível afirmar o que vem causando os problemas como diarreia e vômitos.” 

Os pacientes atendidos nas unidades de saúde apresentam episódios de diarreia, que podem ser acompanhados de náusea, vômito, febre e dor abdominal.

A situação fez a secretaria tratar o cenário como uma epidemia, por conta de o número de registros ter superado a média de notificações na comparação com o mesmo período dos anos anteriores. Em um boletim da semana passada, a pasta cita a identificação de pontos impróprios para banho nas praias da cidade; no entanto, diz que ainda não pode ser estabelecida uma relação entre os fenômenos.

Na sexta-feira (6), uma reunião entre autoridades sanitárias definiu a coleta de amostras dos pacientes para identificar o agente causador do surto de casos e entender o perfil epidemiológico da doença no Estado. Já a Secretaria Estadual da Saúde disse monitorar o aumento de casos da doença, mas afirmou tratar como um episódio pontual a epidemia de diarreia verificada na capital catarinense.

Segundo Gislaine Fongaro, professora do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a situação vivida em Florianópolis pode ocorrer por diversos fatores. Entre as causas estão a presença de locais com esgotamento sanitário ilegal, aumento da população na cidade no veraneio e a ocorrência de temperaturas altas.

Profissionais do Laboratório de Virologia Aplicada e do Laboratório de Ficologia, da UFSC, ampliaram a coleta de amostragens em praias da capital catarinense. A expectativa é que até 20 de janeiro seja possível ter mais informações sobre os vírus que circulam na cidade. Também será avaliado o esgoto bruto no trabalho.

A professora da UFSC diz que os chamados surtos gastroentéricos (vômito e diarreia são exemplos) estão relacionados a agentes infecciosos, como vírus e bactérias, que circulam na água utilizada na hidratação, nas águas para recreação e nos alimentos. Segundo ela, vírus causadores de surtos de vômitos e diarreia têm facilidade para se propagar e são resistentes em ambientes, águas e alimentos.

— Esses agentes infecciosos são chamados de entéricos, ou seja, que possuem rota oral-fecal, sendo ingeridos e excretados nas fezes de pessoas e animais  — disse em entrevista ao site da UFSC. 

Como exemplo, Gislaine cita o adenovírus, norovírus, vírus da hepatite A e E e rotavírus como os principais causadores de gastroenterites.

— O contato direto de não infectados com infectados, bem como o contato direto com fezes e papéis e fraldas contaminadas e aerossóis de banheiros e outros, podem ser importantes formas de transmissão de vírus e bactérias entéricas — comenta a professora.

Fonte: gzh

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