RS pode enfrentar disparada de casos e epidemia prolongada de dengue, analisam especialistas

Estado registrou 2.534 casos e duas mortes nas primeiras semanas de 2024

O Rio Grande do Sul vive uma epidemia de dengue que já registrou 2.534 casos confirmados e duas mortes nas primeiras semanas de 2024. O Estado não é o único a enfrentar uma crise sanitária: Acre, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal decretaram situação de emergência em saúde pública por conta da doença, e outras regiões passam por crises de ordem histórica

Especialistas projetam que o RS registrará disparada de casos, aumento de hospitalizações e óbitos nas próximas semanas. A situação poderá ser apenas minimizada se medidas individuais e coletivas de combate ao mosquito forem adotadas, segundo os estudiosos.

À espera da vacina na rede pública

Moradores do RS terão de aguardar para ter acesso à vacina contra a dengue na rede pública. Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã de terça-feira (6), a secretária de Saúde do Rio Grande do Sul, Arita Bergmann, afirmou que o Estado não realizou a compra de doses do imunizante Qdenga, produzido pela farmacêutica Takeda.

O Ministério da Saúde (MS) recebeu, em janeiro, a primeira remessa da vacina contra a dengue, que será disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O segundo carregamento, com 570 mil doses, deverá ser entregue neste mês. Os municípios gaúchos ficaram fora da lista dos locais que deverão ser priorizadas a partir de critérios estabelecidos pelo governo federal. 

— O que se sabe é que o próprio Ministério (da Saúde) ainda não conseguiu comprar o número suficiente de vacinas. E vacina sempre é um programa federal, do governo federal, do Ministério da Saúde. Nós nem tentamos comprar, primeiro, porque as evidências são recentes — confirmou a secretária.

Arita pontuou que a compra não foi planejada porque a Secretaria de Saúde do Estado (SES) aguarda pelo Ministério da Saúde, mas que o imunizante está disponível na rede privada. Nas farmácias, a procura pela vacina da dengue disparou: 87,4% em clínicas particulares em Porto Alegre e 117,5% em farmácias de todo o Estado em janeiro

Na segunda-feira (5), a farmacêutica Takeda informou que priorizará o atendimento aos pedidos do MS no fornecimento dos imunizantes. Para isso, a empresa suspendeu a assinatura de contratos diretos com Estados e municípios e limitou o fornecimento da vacina na rede privada apenas para suprir a demanda necessária para as pessoas que precisam da segunda dose para completar o esquema vacinal.

Na noite desta terça-feira (6), a ministra da Saúde, Nísia Trindade, fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV em decorrência do aumento de casos de dengue no país. Ela pediu união de esforços do poder público e da população no enfrentamento à doença.

Casos devem aumentar

Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale, diz ser difícil projetar se o RS passará por explosão de casos de dengue similar à observada nos Estados que decretaram situação de emergência em saúde pública – Acre, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. 

— Já seria ruim se apenas empatássemos com os números de 2022 ou 2023: o preocupante é que a tendência é que tenhamos um ano mais difícil. É lamentável perceber que a dengue vem se estabelecendo como um desafio de saúde pública no Rio Grande do Sul — pontua.

A possibilidade de um “ano mais difícil” nos registros de dengue poderá ocorrer por conta da chuva acima da média, que tem atingido o RS, e o calor no verão: eventos ambientais extremos influenciam nas condições de proliferação do Aedes aegypti, segundo o estudioso.

— Os locais de criação do mosquito aumentam com a chuva. Nas épocas de estiagem ou falta de água induzida por interrupção de energia para abastecimento, por exemplo, as pessoas precisam coletar água de maneira precária, o que também facilita a reprodução do mosquito. Isso não é teoria: é a experiência em localidades do Brasil nas quais a dengue já está estabelecida há décadas — argumenta Spilki.

Para Paulo Ernesto Gewehr Filho, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, a previsão é de continuidade no aumento de infecções, pacientes graves e óbitos no Estado. Ele baseia a projeção da análise dos dados de anos anteriores e o comportamento da proliferação de mosquitos nos municípios gaúchos no momento.

— O pico de casos varia conforme as condições climáticas e de exposição, mas geralmente ocorre pela 12ª ou 13ª semana (em março) do ano, e começam a diminuir a partir da 15ª semana (em abril). Neste ano, esperamos um comportamento parecido, só que mais intensificado. No entanto, se o aumento de temperatura e de chuva continuar, pode haver um prolongamento da epidemia de dengue no Estado — diz.

Os 2.534 casos confirmados da doença em 2024 representam aumento de quase 10 vezes na comparação ao mesmo período de 2023, quando 263 registros foram contabilizados. No ano passado foram 38.413 casos confirmados e 54 óbitos em decorrência da dengue no RS.

O que fazer para controlar a dengue

Frear o avanço da doença requer um conjunto de esforços individuais e coletivos, reforçam os dois especialistas. O mais importante é a erradicação dos focos de proliferação do mosquito: pontos onde há água parada. 

— O importante é eliminar os focos e revisá-los semanalmente se não há novos. Isso porque pode chover e a água voltar a se acumular em outro lugar, onde é criado um novo ambiente de proliferação do mosquito. É um trabalho contínuo — diz o infectologista do Moinhos de Vento.

Paulo Ernesto Gewehr Filho ressalta que outros cuidados podem ajudar a evitar o contato com o mosquito: repelentes, colocação de tela em portas e janelas em casa e uso vestimentas que tapem braços e pernas estão entre elas.

Fernando Spilki acrescenta que o poder público também precisa atuar de forma efetiva para controlar a epidemia. Os órgãos de saúde pública, por exemplo, devem monitorar e fiscalizar focos de proliferação de mosquitos em domicílios e empresas. Fumigação e uso de insumos para controle biológico do mosquito são outras medidas que podem ser necessárias. 

— As ações de prevenção coletivas contra o mosquito são extremamente eficazes: quando tivemos o surto de zika, as pessoas ficaram tão alertas que vimos queda de 89% nos casos de dengue no Brasil de um ano para o outro (entre 2016 e 2017). Sem a participação da população, evitando a proliferação do mosquito ativamente, essa guerra pode ser dada como perdida nas condições atuais — finaliza o professor da Feevale.

Principais sinais e sintomas da dengue:

  • Febre alta ( acima de 38°) - normalmente é a primeira manifestação, e de início abrupto (tem duração entre dois e sete dias)
  • Dor muscular intensa
  • Dor de cabeça
  • Dor “atrás” dos olhos
  • Mal-estar
  • Falta de apetite
  • Manchas vermelhas pelo corpo

Medidas para evitar a proliferação dos mosquitos:

  • Verifique os vasos de plantas, retirando os pratinhos
  • Bromélias e outras plantas podem acumular água, por isso, fique atento
  • Veja se há materiais que possam acumular água, como baldes, potes e garrafas
  • Caixas d'água, tonéis ou recipientes para armazenamento de água da chuva devem ser mantidos tampados e sem frestas — ou, então, colocar tela milimétrica
  • Verifique se a calha está desimpedida, removendo folhas e outros materiais que possam impedir o escoamento adequado da água
  • Inspecione os ralos
  • Mantenha as piscinas, de plástico ou fixa, sempre limpas
  • Pneus devem ser mantidos em locais cobertos ou com furos grandes para escoamento
  • Banheiros externos e áreas sem uso devem ser mantidos com vasos sanitários tampados e com tela milimétrica nos ralos

Fonte: GZH

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